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No Brasil, são estimados mais de 17 mil novos

casos desse tipo de câncer, de colo de útero.

 

>> A incidência da doença está representando um risco de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres. Detecção precoce, tratamentos mais eficazes e métodos de preservação da fertilidade têm proporcionado esperança para mulheres diagnosticadas com câncer ginecológico e que desejam ser mães

 

O sonho da maternidade, por meio da gestação, está a cada dia mais possível de ser realizado por pacientes com câncer ginecológico. Grande parte das mulheres diagnosticadas com esse tipo de câncer enfrenta problemas de fertilidade devido ao tratamento. No entanto, além dos avanços na detecção precoce dos tumores, novas técnicas estão sendo desenvolvidas para preservar a fertilidade antes e durante o tratamento. “A paciente com câncer deve ser vista de maneira integral. O oncologista precisa considerar tanto a saúde física, quanto a psicológica e as prioridades da mulher em idade reprodutiva”, diz Angélica Nogueira-Rodrigues, oncologista com foco em câncer feminino.

 

Segundo a médica, há perspectivas promissoras para as pacientes que desejam ser mães e estão enfrentando o tratamento contra o câncer. “Com os avanços da medicina e os protocolos de saúde atuais, é possível detectar tumores femininos de forma mais precoce. Quanto mais cedo o câncer for detectado e tratado, melhor será a qualidade de vida e maior a sobrevida da paciente.”

 

Embora o foco dos profissionais de saúde seja a cura da paciente, é importante ampliar a abordagem durante o planejamento do tratamento, levando em consideração o desejo futuro da paciente em relação à fertilidade. O subtipo e a intensidade dos medicamentos usados na quimioterapia e radioterapia podem afetar os ovários e  causar menopausa precoce. “Além dos tratamentos de quimio ou radioterapia, cirurgias realizadas podem afetar o útero e os ovários, dependendo da doença e do estágio em que se encontra. Por isso, é fundamental discutir a estratégia terapêutica em conjunto com a paciente , apresentar os riscos de infertilidade e discutir estratégias existentes para preservação de fertilidade. Esta discussão idealmente deve ser feita ao diagnóstico, antes do início do tratamento ”, explica Angélica.

 

O mesmo cuidado deve ser aplicado quando a paciente já está grávida e exames indicam a presença de carcinoma do colo do útero, por exemplo. As decisões sobre o tratamento podem variar de acordo com o tipo de câncer, a idade gestacional e também o desejo da paciente.

 

Cânceres ginecológicos

 

Os cânceres ginecológicos abrangem diversas neoplasias, sendo o câncer de colo de útero o mais incidente entre eles. No Brasil, são estimados mais de 17 mil novos casos desse tipo de câncer, representando um risco de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres. Além do câncer de colo de útero, compõem este grupo os cânceres de ovário,  corpo do útero (endométrio), vagina e vulva, estes últimos menos prevalentes, de acordo com dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer).

 

Preservação da fertilidade em pacientes com câncer

 

A fim de abordar a questão de forma interdisciplinar, combinando os conhecimentos da oncologia com as estratégias de preservação da fertilidade, surgiu a área médica de oncofertilidade. Nesse campo, a medicina reprodutiva trabalha em conjunto com o tratamento do câncer em mulheres. Um dos conceitos-chave na oncofertilidade é o planejamento terapêutico, utilizando tratamentos menos agressivos à fertilidade da mulher, mas mantendo as mesmas chances de cura dos tratamentos mais radicais.

 

“Além de novos tratamentos menos agressivos quanto à fertilidade da mulher, pacientes em idade reprodutiva também podem considerar outros métodos, como o congelamento de óvulos, assim como de embriões ou de tecido ovariano (este último ainda não indicado rotineiramente) ou até mesmo optar pela supressão ovariana durante a quimioterapia citotóxica, na qual o tratamento é feito por hormonioterapia”, afirma a oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues.

 

Apesar das opções para a preservação da fertilidade feminina, muitas vezes uma futura gestação não é debatida antes do início do tratamento de câncer. “O diagnóstico da doença levar a paciente a esquecer seus planos anteriores e focar apenas na cura do câncer. No entanto, esta discussão deve ser feita antes de iniciar o tratamento”, diz a médica.

 

Pacientes com plano de saúde têm o direito à congelamento de óvulos protegido pelo Código de Defesa do Consumidor. Além da saúde suplementar, no Sistema Único de Saúde (SUS) também são oferecidos, em alguns hospitais universitários, acesso à preservação de oócitos ou de embrião, no entanto este acesso “infelizmente é difícil e a maioria das mulheres tratadas na rede pública não consegue este acesso em prazo oportuno”, afirma a médica Angélica Nogueira-Rodrigues.

 

Assunto em pauta em Brasília

 

O tema da conscientização sobre infertilidade e oncofertilidade foi discutido recentemente em Brasília. Neste mês, foi aprovado o requerimento do deputado federal Pedro Westphalen apresentado na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados  solicitando a realização de audiência pública para discussão do assunto. Segundo o requerimento, o objetivo da reunião é conscientizar e divulgar para o maior número de pessoas, informações sobre a infertilidade e suas repercussões sobre a saúde física, mental e emocional, mobilizar os profissionais da área e áreas afins, para que atentem o mais precocemente possível para a saúde reprodutiva das pacientes.

 

Sobre Dra. Angélica Nogueira-Rodrigues

 

Angélica Nogueira-Rodrigues é MD-PhD em oncologia clínica. Possui pós-doutorado em oncologia pelo MGH/Harvard University, Doutorado em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer, Mestrado em Saúde da Mulher pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui Fellow em Pesquisa Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer. Pesquisadora e professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFMG. Desenvolve atividades didáticas na graduação, residência médica em Oncologia e pós-graduação sensu stricto. Idealizadora, membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). Diretora SBOC nacional gestão 19-20 e 21-23. Chair Gynecologic Oncology LACOG. Membro permanente da Câmara Técnica de Medicamento - CATEME-ANVISA. Idealizadora do Movimento Brasil sem Câncer do Colo do Útero. Membro da câmara técnica Ministério da Saúde para estratégias de eliminação do câncer do colo do útero.

 

 

 


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